Mundo Estranho

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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A Parábola das Duas Sentinelas

Era uma vez um príncipe de um páis muito distante, imensamente rico e poderoso, que decidiu se entregar à busca da única coisa que lhe faltava: a felicidade.
Seu primeiro passo foi colocar a agulha do seu barômetro na marca de tempo bom e estável e imobilizar sua biruta, pois quando ela virava de mau jeito ele ficava num terrível mau humor. Na verdade, tinha percebido até que ponto o homem é sensível aos estados da alma - os climas interiores definem nossa felicidade ou nosso desespero -, e estava decidido a colocar-se do lado da sorte.
Então ele contratou dois profetas conhecidos por serem os mais talentosos do reino, um por sua insipração espontânea, o outro pela sabedoria e lucidez de suas profecias. Os dois profetas se apresentaram no dia combinado e o Príncipe os recebeu em sua sala mais íntima.
- Chamam-me Esperança, diz alegremente a primeia criatua, e por causa de sua felicidade natural o Príncipe tinha motivos para pensa de que se tratava de uma pessoa iluminada.
- Chamam-me Lamentação, diz a outra, teemento, e seus olhos errantes traziam sinais de angústia.
Assim que os viu, o Príncipe ficou surpreso ao perceber como os dois pofetas que lhe tinham recomendado eram diferentes um do outro. Seu espanto foi maior ainda quando soube que essas duas criaturas singulares eram primas em primeio grau, e que não se separavam nunca.
- Por que você é verde?
- Porque eu sou a Esperança!, disse a primeira, rindo, como se aquilo fosse óbvio.
- E você, por que é azul?
- Ah, isso eu puxei da minha mãe, que se chamava Medo...
O Príncipe deu-lhes o título honorário de 'construtores do Estado da alma' e transformou-os em suas duas sentinelas devotas, cuja missão era velar pelos sentimentos dele, se revezando de noite e de dia. Eles vigiavam todo o território e se manifestavam assim que um fato notável aparecia no céu. De quando em quando, elas soltavam boletins informativos do tempo interior que decidiam os estados da alma do Príncipe. Assim elas produziam chuva ou tempo bom no coração do seu amo.
Ele vivia a angústia da espera a cada novo dia, poisas sentinelas traziam informações contraditórias que o peturbavam a pont ode ele não mais saber qual seguir, nem o que sentir. Frente aos mesmos acontecimentos, uma das sentinelas encorajava seus impulsos e provocava seus sonhos de felicidade e serenidade, enquanto que a outra não parava de contaminá-lo com dúvidas, e de semear nele e febre da incerteza.
Assim, a Esperança lhe dizia, com ímpeto:
- Veja como o dia está lindo! Veja como tudo é ao mesmo tempo simples e sublime sob o sol! O que você está esperando para ser feliz? A vida é como uma mãe que te pega nos braços. Vou transformar teu coração em estusiasmo e fervor.
Decidida a pelo menos amenizar os excessos líricos de sua prima, a Lamentação puxava o Príncipe pelo braço para chamar sua atenção sobre os possíveis males que podiam esconder-se por trás daquela clemência momentânea dos céus. Ela murmurava gravemente ao seu ouvido, como uma confidente que o honrasse com um segredo importante:
- É verdade que o tempo está bom, mas isso não vai durar muito. Quando tudo parece estar bem demais, desconfie: tem sempre alguma coisa escondida. Nada é eterno sob o céu, e o que existe hoje pode perfeitamente não existir amanhã. A natureza é uma madrasta.
Hesitante entre a Esperança e a Lamentação, o Príncipe sentia um mal-estar profundo. Tanto mais porque ele estava apaixonado de tal forma que o simples pensar na sua amada lhe dava tremores de alegria.
Um dia, quando uma violenta tempestade estourou no coração do Príncipe, a Lamentação lhe disse num tom vitorioso:
- Bem que eu te disse. Veja como eu sempre tenho razão!
O Príncipe convocou imediatamente a Esperança e perguntou-lhe com decepção e severidade:
- Por que você mentiu para mim?
A Esperança sorriu:
- Homem de pouca fé! É verdade que depois de um trovão vem a tempestade. Mas em seguida, o céu se torna claro e luminoso, e a paisagem maravilhosamente bela. Só é preciso saber esperar o fim da tempestade. Se cada um se fechar em simesmo temendo a chuva, as estações passarão de maneira monótona, e ficaremos protegidos do mais belo estado da alma que a natureza nos oferece, e que na alma humana se chama paixão. Morreremos sem termos experimentado a fundo o sabor dessas belas noites de tempestade que preparam a beleza dos dias seguintes e a deliciosa sensação de um novo sol ardente.
- Não lhe dê ouvidos, retrucou a Lamentação. A vida é como uma fonte: chora todos os dias.
A Esperança corrigiu:
- A vida é como uma fonte: canta todos os dias. Basta saber escutar.
Lamentação, notou o Príncipe, rima com chateação, e Esperança rima com criança. O Príncipe decidiu dar menos crédito à Lamentação.
- Para que serve tanta prudência, pensou ele, se isso não é nada mais que medodofuturo ou constante expectativa de acontecimentos desagradáveis? Talvez as melhores coisas tenham mesmo fim. Mas têm também um começo. Então, comecemos sendo felizes. E sejamos menos sensíveis à força das coisas que perturbam o horizonte e o ofuscam por um tempo, mas apenas por um tempo, nosso entusiasmo. No fundo, pouco importa que o sol seja um passageiro e insignificante desafio aos elementos, se soubermos aprecia suas carícias e saborear seus beijos. E se no ciclo das estações o sol é raro epouco quente, é por puro charme. O que seria da alegria transbordante dos reencontros se não houvesse a separação?
Assim o Príncipe desse país distante, que até então quis comandar todos os movimentos dos seus jardins secretos, se sujeitou à versatilidade dos ventos.
Ele passou a sujeitar sua liberdade às oscilações do barômetro e da biruta, que não conseguia se decidir pelo cortejo dos quatro ventos. De noite ela tniha se casado com o sudeste, e o Príncipe ia dormir com um sorriso de satisfação. Algumas horas mais tarde, ele ouvia entre dois sonhos o assobio do vento oeste. Mas, para se convencer de que não haveria contratempos, se entregava à Providência e se apressava em adormecer guardando sua imagem da biruta flertando com o vento sul.
No dia seguinte o Príncipe conheceu seu primeiro dia de verdadeira felicidade: tudo estava triste e escuro ao seu redor e sob o céu, mas em seu coração fazia tempo bom. Ele decidiu empregar a Esperança por jornada integral e transformá-la em sentimento exclusivo de estado de alma. A Lamentação foi embora suspirando, mas não teve dificuldades para encontrar outro emprego. Apesar de sua má reputação, ela era muito cortejada pelos homens...

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